Entornointeligente.com / SÃO PAULO — O relatório final das investigações realizadas pelos Ministérios Públicos Federal (MPF), do Trabalho (MPT) e do Estado de São Paulo (MPE) concluiu que houve uma “persistente e consistente colaboração ativa da Volkswagen com o regime militar” brasileiro (1964-1985). Ainda de acordo com o documento, a montadora alemã “demonstrou vontade de participar do sistema repressivo, sabendo que submetia seus funcionários a risco de prisões ilegais e tortura”.
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O texto foi divulgado nesta quarta-feira, data em que o golpe militar completa 57 anos. Em setembro do ano passado, a Volkswagen aceitou firmar um termo de ajustamento de conduta com o MPF, MPT e MPE e destinar R$ 36,3 milhões a ex-funcionários e para iniciativas de promoção de direitos humanos. O acordo tinha o objetivo de evitar responsabilizações judiciais pela sua coloboração com a repressão.
Apesar do acordo, o relatório, oriundo de inquéritos instaurados em 2015, foi concluído. O documento teve coloboração de dois pesquisadores externos. O MPF e MPE contrataram o cientista político Guaracy Mingardi, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e a Volkswagen na Alemanha, o professor Christopher Kopper, da Universidade de Bielefeld.
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“Os fatos até aqui reportados demonstram que a colaboração da empresa não foi eventual ou fruto de pressões insuportáveis. Ao contrário, está claro que a Volkswagen estabeleceu por disposição própria uma intensa relação de contribuição com os órgãos da repressão política, muito além dos limites da fábrica”, afirma o relatório.
A decisão de aceitar pagar indenizações aos ex-funcionários representou uma mudança de postura da Volkswagen. Em dezembro de 2017, a montadora realizou um evento em sua sede em São Bernardo do Campo para apresentar as conclusões da pesquisa de Kopper. Na ocasião, a direção da empresa dizia que cogitava reparar seus ex-funcionários presos em razão de militância sindical durante a ditadura porque não foram encontradas evidências claras de que a cooperação com a ditadura era institucionalizada .
PUBLICIDADE Em janeiro de 2018, o GLOBO teve acesso ao relatório de Minguardi, que apontava divergências em relação às revelações feitas pelo historiador alemão. O cientista político reproduzia um informe do Serviço Nacional de Informação (SNI) com relato de que o presidente da fabricante de veículos na época, Wolfang Sauer, era informado sobre toda e qualquer atividade de repressão promovidas pelo setor de segurança da montadora.
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